Não queria ter mudado nada nele. Tinha cheiro a Primavera, a árvores despidas, pétalas acabadas de cair dos ramos, tinha cheiro a conforto mas também a confronto, com quem não sabia mas rápido descobri que era um confronto comigo mesma, como se fosse um espelho, um prisma, todas as minhas acções tinham um reflexo nele que de alguma maneira voltavam para mim, como Karma mas diferente. 

Era simples lidar com ele, embora ele dissesse que não, de uma certa forma, para mim, sempre foi fácil lidar com ele. Todas as estações do ano juntas não conseguem explicar como a cabeça dele funcionava. Ele era ansiedade, era cansaço, era filosofia dispersa, era dor, era tranquilidade na voz, desassossego no trimelicar da perna, era fogo no respirar, uma morte por afogamento em sentimentos, era calor e frio, ao mesmo tempo, era tudo o que corria nas veias dele. Tudo bem, sempre gostei de tempestades mesmo quando estava debaixo delas, porque a chuva molha, faz-nos sentir desconfortáveis dentro da nossa própria roupa mas faz-nos pensar, cria momentos inesquecíveis e limpa, a trovoada assusta mas é só barulho e flashes, o vento costuma ser o que nos faz sentir livres ... então eu sempre vi a beleza das tempestades mesmo quando não me encontro confortável sentada perto da lareira. Como também sempre vi beleza na tua tempestade interior mesmo quando tu nunca a viste. 

Para ser sincera, eu acho que sempre fui essa tempestade mas mil vezes mais intensa. Infelizmente, sempre fui demasiado intensa com ele, talvez isso o tenha mandado embora. Na realidade, eu procuro diariamente alguma coisa para culpar para aliviar um bocado a culpa que apenas consigo atribuir(-me). Tudo o que eu queria era fugir, ou porque o amava demais e não podia, ou porque tinha medo de o perder e mais valia acabar logo com tudo, ou então porque o queria proteger da minha loucura, eu queria acabar com ele e fugir até porque tinha medo do que ele achava de mim. 

Eu simplesmente estava cagada de medo (da rapidez com que as coisas aconteceram, da intensidade, da frequência do que eu sentia por ele ... eram infinitos os motivos) de me magoar mais uma vez, eu simplesmente não aguentava mais uma perda ou ter que mandar alguém que amo embora com válidos motivos. Simplesmente só queria fugir, como um coelho assustado. 


Um dia percebi que o principal motivo de eu querer fugir era porque depois de tanta pancada, sem querer, alguém tinha novamente o poder de me deixar sem chão, sem nada, o pior é que com ele ainda era pior, porque eu sentia que lhe tinha dado o poder de me arruinar, se ele assim quisesse. Vá, fodasse, eu tinha prometido a mim  mesma nunca mais me apaixonar mas bastou entrar naquela porta, ver aquele sorriso, que pimba, lá «tirou» isso de mim, ... tinha prometido a mim mesma nunca mais dar a alguém o poder de me deixar sem chão, de me magoar ao ponto de me deixar na merda e pimba ... até isso lhe dei.
Por isso, eu só queria fugir, por medo, era tudo o que era, era medo. E um dia, tudo o que eu temia aconteceu.
Ele saiu pela porta da frente. 'Nunca mais me vais ver, para mim chega, lamento mesmo muito, para mim não dá mais, desculpa.'


Foram as palavras dele, antes de bater a porta do meu carro com aquela força desnecessária mas habitual. Eu fiquei ali parada por horas, sentada, perdida. Sem chão, sem tecto, sem saber o que fazer, sem saber para onde ir, sem saber para quem ligar, sem perceber se queria chorar ou morrer. Vi-o dobrar a esquina sem sequer olhar para trás, ele estava mesmo decidido, e deixou-me ali sem, sem nada. 

Se eu pudesse voltar atrás no tempo e sei lá, voltar para quando tínhamos nem três meses, faria tudo diferente, eu tinha parado de manda-lo embora, tinha parado de fazer a birra quando as coisas não corriam como eu queria, tinha controlado mais os meus ciúmes, e definitivamente tinha demonstrado mais o quão importante ele ainda é e sempre será para mim, o quanto o amava, com certeza que o tinha ido buscar mais vezes ao trabalho, e se eu pudesse voltar atrás no tempo dizia-lhe que a minha estação favorita é a Primavera, que ele tem o meu sorriso favorito, e que eu espero o resto da minha vida para que quando ele se sentir preparado avançarmos com todos os nossos planos, definitivamente dizia isso. 
«Vou esperar por ti o resto da minha vida, vou esperar o tempo que for preciso até tu sentires que estás pronto para agarrar a minha mão para sermos dois loucos nesta corrida chamada vida.»

Ainda espero, volta. love you more than dorittos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue